domingo, 11 de junho de 2017

A importância do ensino presencial no treinamento de força



Não me entendam mal, nem generalizem o texto pelo título: eu gosto e acho muito válido o ensino a distância. Eu mesmo já utilizei algumas vezes da ferramenta e acrescentou conceitos importantes em minha formação.
O estudo a distância permite que o conhecimento chegue a alunos que não seriam possíveis de outra maneira, seja por distância, por tempo ou simplesmente por valores. Porém, acreditar que o ensino a distância seja a tábua de salvação de uma geração de profissionais do movimento humano é perigoso e pode levar a uma atuação profissional catastrófica.
Creio que esses profissionais devam uma parte importante da sua formação ao conhecimento tácito transmitido de profissional para aluno/profissional pois, não se coloca em texto, muito menos em vídeo, aquilo que se aprendeu na prática. Também não sou um defensor da dissociação de teoria e prática e devo parte importante da minha formação ao sistema acadêmico tradicional.
É importante que o profissional do movimento humano saiba ler criticamente um artigo científico, entenda conceitos importantes de fisiologia, cinesiologia, biomecânica, treinamento desportivo, etc mas também saiba o “como fazer”: saber como corrigir um aluno especificamente; ajustar - por tentativa e erro - os detalhes para que o movimento de um aluno se torne fluído e seguro para sua execução; entender a importância da segurança dos levantamentos por ter vivenciado situações e por vivência própria acumulada.
Por isso, divido minhas aulas em:
1) Conteúdos teóricos e conceituais: podem ser aplicados com os alunos apenas observando a aula e interagindo, sanando dúvidas para formação de conceitos. Esse conteúdo pode ser transmitido tanto em aula presencial quanto a distância, pois essas duas formas de ensino-aprendizagem geram resultados satisfatórios e adequados.
2) Conteúdo tácito de predomínio prático: não é possível ser ensinada a distância, como por exemplo: não se ensina percepção subjetiva de esforço máximo sem que a pessoa seja colocada em uma situação segura para poder vivenciar essa sensação; não se ensina sobre a melhor eficiência individual da abertura de pisada de um agachamento se o aluno não vivenciar diversas pisadas e encontrar a melhor abertura de pisada que funcione pra ele, pois é impossível eu descrever a sensação de “agora funcionou pra mim”; não se ensina com slides qual o melhor ponto para uma barra encostar no peito durante o supino, levando em consideração todas as proporções corporais daquele aluno, porque a sensação do “agora ficou leve e fácil” não se descreve com palavras.


Claro que, ambos os métodos de ensino possuem limitações. Enquanto o ensino a distância não possibilita o ensino do conhecimento tácito, o ensino presencial exige que se forme uma turma, por determinado período de tempo, com limitação da quantidade de alunos possíveis, tudo para que haja uma vivência e aprendizado adequados do conteúdo, logística de equipamentos necessários e a presença física do professor, o que, consequentemente, gera um aumento nos valores finais deste tipo de formação.
Cabe ao aluno entender as vantagens e limitações de cada uma das formas de ensino e o porquê das diferenças de investimento em cada uma das modalidades de cursos.
Atualmente acredito que a formação universitária fornece conteúdos conceituais adequados à formação dos profissionais do movimento humano e toda lógica acadêmica para que o aluno egresso das universidades seja capaz de entender conceitos importantes relacionados à sua área e consiga entender a dinâmica que envolve o entendimento da produção científica e como adquirir, através de leitura crítica, este conhecimento.
Vejo que o ensino universitário, de maneira geral, ainda falha na formação tácita e prática dos alunos, e os motivos são multifatoriais: falta de uma integração da universidade com projetos que envolvam a comunidade e a atuação cotidiana dos profissionais que estão formando, a passos lentos, mudanças nas grades curriculares para adequação das necessidades de mercado atual e, até mesmo, da falta de vivência profissional que boa parte dos professores universitários possuem pois, suas formações acadêmicas não acompanham tendências ou necessidades de mercado e sim as dinâmicas inerentes da ciência.
Portanto, hoje foco minha atuação como professor no aspecto prático para melhorar a atuação do aluno que me procura em cursos: quero saber quais são suas dúvidas e seu interesse pelo curso, onde posso contribuir pra ele ter uma atuação melhor com o aluno que chega até ele, mostrar que existem múltiplos caminhos para o aprendizado, fazê-lo vivenciar diversas situações para que entenda o que o aluno vai passar com o treinamento, adaptar o conhecimento adquirido para que ele utilize em diversos tipos de público e transformar a clínica prática em um grande laboratório, onde ele possa fazer um simulado supervisionado  de correção dos colegas que também estarão vivenciando a prática e isso ser discutido de maneira que o conhecimento seja construído e não verticalizado pela relação professor-aluno.


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