sexta-feira, 13 de outubro de 2017

O final da minha carreira de atleta... brasileiro

Por Hugo Quinteiro

“Everything that has a beginning… has an end, Neo”

Agent Smith; Matrix Revolution, 2003

Em alguns momentos ter a oportunidade de ver partes da sua vida em retrospecto é algo que causa uma mistura de sentimentos e, dentre eles, a incredulidade.
 Observe a foto acima.
 Se alguém me dissesse, naquele dia, que esse seria meu último momento competitivo representando o Brasil, eu jamais acreditaria. Estava cheio de planos para os próximos campeonatos e já pensando na recuperação da lesão que sofri quando fiz esse levantamento terra aí da foto. Foi feio,  doeu bastante, mas mesmo assim consegui conquistar o bicampeonato mundial e 65kg a mais de total (soma dos três melhores levantamentos) que no ano anterior.
Foram, ao todo, cinco campeonatos mundiais que participei e considero os resultados muito expressivos: quatro títulos e cinco recordes mundiais quebrados em apenas dois anos participando de campeonatos internacionais.
Creio que com esse desempenho representei o Brasil de maneira honrosa e digna.



O saldo final como atleta brasileiro foi positivo e me sinto, de certa forma, escrevendo uma autobiografia póstuma de uma parte minha que não vai mais existir: o atleta brasileiro Hugo Quinteiro.
Esse atleta se despede por uma série de motivos que incluem: falta de sensação de identidade e pertencimento, falta de apoio institucional, de infra-estrutura, de estabilidade econômica e de desprezo das políticas públicas brasileiras dos últimos anos. Contudo, que fique claro que meu respeito ao Brasil e ao público brasileiro permanecem íntegros e inalterados.
Agradeço a cada um dos meus alunos e amigos que me ajudaram nos inúmeros crowdfundings que fiz e até mesmo das doações voluntárias que permitiram que todas essas conquistas se tornassem possíveis. Porém, sei que cada um que me ajudou, não fez pra ajudar um país e sim uma pessoa na qual acreditaram que poderia ir tão longe em um esporte tão pouco valorizado.
Inicio agora uma nova fase como atleta português. Faço isso pela maneira acolhedora com que esse país vem me recebendo (amigos, entidades, alunos, etc) e mostrando um carinho e um apreço que até hoje não havia conhecido. Faço isso, também, por uma questão familiar: quero representar digna e honradamente o país de meu pai e avós, que me ensinaram lições de vida que moldaram profundamente minha percepção de mundo e caráter.
 Apesar da distância, que ainda vai permanecer por algum tempo, serei um atleta português em terras sul americanas representando o país em eventos pelo Brasil e mundo.
Estarei por aqui, em terras brasileiras, ministrando aulas, trabalhando e treinando com a mesma dedicação e comprometimento para que eu represente meu novo país da mesma maneira que por tantos anos representei o Brasil.




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